6.30.2007

FAMÍLIA FICA NA MISÉRIA

LOUSADA

(imagem)

O desespero de uma mãe que viu perder tudo quanto tinha

As fotografias já não podiam documentar aquela fatídica tragédia.

Chegámos ao local, e o edifício, que compunha uma churrascaria e duas habitações anexas, estava quase totalmente reduzido a escombros, já não existiam - parecia de facto, mais um desabamento que outra coisa! Até o recheio, eram montões de destroços e alguns materiais de metal contorcidos, que antes foram o equipamento daquela churrascaria e das habitações - humildes, com certeza, até pelo que se deduzia de tão assolada tragédia, assim tão consumada, que não mostrava mais que ser um efifício pouco moderno, pelo menos desactualizado.

Mesmo defronte da estação dos caminhos de ferro, Estação de Caíde, ali na pequena povoação de Cavou de Rei concelho de Lousada, na sua divisão com Felgueiras, quando eram cerca das quatro horas da manhã, a senhora pressentiu água a cair dos tubos de canalização - presume-se assim, que fossem de plástico e fossem derretidos, constacta, que a sua casa estava a arder, vindo a consumir todo o edifício composto de rés-do-chão, em toda a sua extensão, por sinal comprida, apenas ficando a parede trazeira, de pé, e o resto, apenas resíduos.

Quando ali chegámos, os Bombeiros Voluntários de Lousada, procediam ao rescaldo, na escuridão daquela madrugada. Os mirones ali presentes, comentavam o sucedido. Na escuridão da madrugada a mãe sentada ao lado dos filhitos envoltos em cobertores, representando o drama. Assim aconchegádos, se for este o termo - enquanto lamentava e conjecturava virada para nós, como se a pudessemos ajudar: «Foram com certeza os malandros, que têm andado por aí a pegar fogo às matas» - A chorar, obviamente, sem que a questionassemos - confiante certamente que ao trazermos esta reportagem a lume, alguém a compreenda, e ajude.

As crianças, impávidas, só se mexeram dos cobertores daquele improvisado leito, levantando as cabecitas, temendo, com certeza, o inofensivo Flash, possivelmente não se achando ali seguros. Na madrugada fresca, em que um fogo - (fogo quente, como se entende), gelara as suas vidas marcadas ainda mais, pela tragédia.

A inditosa senhora, mãe daquelas crianças, desabafava para nós, enquanto disparávamos o Flash, frases amarguradas, defronte «daquilo», que fora o seu lar e ganha pão.

Esta família vê ainda pior o seu futuro.

(imagem)

O olhar assustado das duas jovens crianças


Mário Magalhães

O Caso, 13.10.1989

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