5.14.2007

COM OS OLHOS MAREJADOS DE LÁGRIMAS

“MAMÃ! A AVÓ MORREU!”


Não é menino prodígio, nem “fora de série” é apenas um menino normal de seis anos, vive com os pais, tem outro mano, mais novinho, faz a vida que fazem os meninos da sua idade.

Vai à creche, brinca, ouve música, vê televisão e este ano lectivo já se vai sentar nos bancos da sua escola, o que lhe está a causar uma grande alegria, pois diz com graça que “vai estudar para aprender mais...”

Vamos chamar-lhe o menino “R”. Tem uma paixão pelo seu telefone e sempre que é possível é com alegria que o atende e fá-lo com graça, simpatia e às vezes até com uma pontinha de vaidade.

Mas, num destes últimos dias, o aparelho que ele tanto gosta, fez uma “partida” – foi mau – deu uma notícia muito triste, uma notícia que talvez o vá marcar durante muito tempo! A sua avózinha, que para ele era a “sua vóvó”, tinha morrido e ele passou o telefone à sua mamã e ouviu claramente a notícia que ele nunca quereria ouvir.

Sua mamã, a Sr.ª M.R. e seu papá o Sr. J que estava presente, sentiram o impacto da brutal novidade e, com os olhos marejados de lágrimas, começaram a sentir a inesperada partida da vóvó, mamã e sogra que, tanto os venerava, pois aquela mamã talvez fosse diferente das outras.

O seu pequenino mano, mais comedidamente, sentia também o choque e, em silêncio, padecia... com que aspecto!

A Sr.ª M.R. combalida de grave doença que ainda a retinha em casa, sofrendo com o que aquele dia 29 lhe tinha trazido, entrou em pranto, chorando lágrimas “já” de saudade, de dor e de amor filial.

O menino “R” demonstrando uma disposição invulgar e um elevado espírito humanístico, quase impossível nos “meninos” da sua idade, com a sua vózita embargada pela emoção, mas firme, vai junto de sua mamã e tenta-a reconfortar com estas simples palavras:

“Mamã, não chores pela vóvó! A todos nós nos vai acontecer o mesmo... é a ordem e a lei da vida” e, meigamente como sempre mas, desta vez, talvez que a meiguice fosse superior àquela que sempre tem apresentado, com beijos ternos e molhados pelas suas inocentes lágrimas, encosta a sua carita à da mamã e volta novamente a tentar reconfortá-la.

O seu papá, o Sr. J. tudo presenciou, vergado ao desgosto da perda daquela que ele tanto queria e que a considerava de “mãe”, reviu no seu pequeno filho, uma criança amorosa e, disse para si próprio: “Que coração tens, meu querido filho...”

Mais palavras para quê, depois desta manifestação de amor, de carinho, de bondade e principalmente de ternura infantil, apenas e só isto!

Que Deus te proteja e que sejas feliz, meu rico menino.


Álvaro Teixeira

O Caso, 15.09.1989