11.04.2004

Quando os erros doem

Ao longo das nossas vidas todos passamos por situações que não sabemos como aconteceram, porque aconteceram. Há cerca de um mês cometi o meu primeiro grande erro organizativo num torneio. Ao fim de mais de 20 anos a organizar eventos desportivos alguma vez havia de acontecer dirão alguns. Mas não, há erros que não podem acontecer. Porque são erros para os quais não há desculpa.
Aconteceu no Nacional Feminino, estava eu a digitalizar partidas, concentrado, quando me perguntam se a Ana Baptista ainda pode ganhar. Sem pensar duas vezes disse que a Catarina Leite já era campeã. Tão convencido estava que também o disse para a imprensa. Só que os regulamentos tinham mudado, e o resultado na partida final entre ambos seria decisivo.
Na manhã seguinte estava de partida para França e apenas quando regressei vim a perceber o erro cometido. Desculpas houve que apresentar, e aqui me penitencio uma vez mais, especialmente à Ana Baptista, mas devo confessar que não há desculpa para erros deste tipo, porque a culpa nos há-de perseguir sempre. Haverá perdão.
Por acaso naquela fatídica noite tinha dito que a Ana Filipa devia jogar para ganhar e que isso seria o mais importante, e ela acabou por jogar uma excelente partida final impondo mais um empate à campeã nacional. Se assim não fosse não sei como estaria hoje comigo mesmo, e como já certamente perceberam, nada bem estou com a situação.
É uma daquelas manchas que vai sempre permanecer dentro de mim.
Muito importante é aprendermos com os nossos erros e este revelou algumas coisas:a) em situações decisivas devemos sempre confirmar se a nossa verdade o é de facto, o nosso subconsciente prega-nos muitas partidas;b) fazer muitas coisas em simultâneo aumenta gravemente as probabilidades de um erro ocorrer;c) com a idade vamos perdendo faculdades.
Verdades de que todos conhecemos mas tantas vezes esquecemos.
Devo confessar que foi a segunda vez no espaço de um mês que senti a idade. Isto quando se chega aos quarenta é complicado. A primeira foi em Ourense quando pela primeira vez me vi sem força física para jogar futebol dois dias seguidos. A segunda foi neste caso, em que pela primeira vez a memória me atraiçoou numa situação crítica.
Como sabem estive gravemente doente no início do ano, e de facto deste então já por algumas vezes tinha deparado com situações de falha de memória, em pequenas coisas. Mais uma razão para estar atento.
Peço vos desculpa por este editorial ser tão pessoal, mas há fantasmas que temos que tentar exteriorizar, e a Ana Baptista merece um pedido de desculpas público.
A vida é feita de grandezas e misérias.
A vida continua, mas a dor permanece.


Luís Costa

www.infoxadrez.com, 05.08.2002