DURA A CAMINHADA... DUM ANCIÃO
No passado sábado, demandou por esta vila um ancião, que deve ter sido trazido não por seus meios ou vontade específica, dado o estado de conservação daquele desgraçado ancião, cujo mais desgraçado que o próprio ancião, com certeza!
Dizia não ter familiar algum, o que só por se ver o pobre do velho ali naquele estado e ali vindo sabe-se lá de onde, fazia querer que mesmo que tivesse, o que pela lógica faz crer que sim, era exactamente como se não tivesse; ou pelo menos sem dignidade ou credibilidade de tal estatuto.
Cremos até que era vivacidade da parte do velho, que com certeza de bem tido pelos seus possíveis familiares, que não reagem menos que a indicar o complemento do que já atrás se disse, era vivacidade, e dizíamos, por se querer ele próprio, quase inerte, bem longe deles, razão certa pela qual dizia não possuir para que o mantivessem bem longe.
Roto, sujo e mal ataleigado, era o envolto do que se diz um corpo humano; apoiado numas canadianas que mais pareciam do terceiro mundo ou pré-história, feitas de pau velho e já de muitas andanças até suportando o pobre e leve corpo, mas de pouca mobilidade, e como tinham umas cores estragadas pretensamente como as de um invisual, veio a constactar-se que tinha muita dificuldade de visão, e queria seguir viagem com algumas roupas que se chamam vulgarmente farrapos a esturbar mais o pobre e desgraçado ancião na já difícil tarefa de manejar e se deslocar.
Alguém o ajudou a sentar-se ali nas imediações dum moderno complexo, como por ironia, e de tanta gente bem enfarpelada, muito poucas eram as que lhe ligavam importância, de um só olhar.
Se familiares deixavam o pobre ancião demandar-se assim ao Deus-dará, houveram duas boas almas que não deixaram o homem, porque era um homem, ao destino imprevisível que o mais natural seria acometer-se de acidente mesmo de atropelamento, ou outro possível, e metido num carro, aquele homem, pôde andar de carro, foi levado por dois senhores de bom coração, que até sabemos confirmar, porque conhecemos um, mais ou menos destes meios de comunicação, e outro de actos de dinamismo, que levaram o ancião ao asilo local onde não parecia haver muita disponibilidade para o aconchegar, mas reparado em pormenor, pode perceber-se o corpo dorido e saliente de habituado aos colchões das ruas, e estado aparente, que ao pressentir uma Irmã da Caridade, lhe falou cheio de ternura, que ficava já ali naquele maple, bem mais suave para os seus ossos, que lhe valeu pronto aconchego e eficiente bem como ser de imediato saciado daquela sede de fome...
Mário Adão Mendes de Magalhães
O Caso, 15.09.1989
Dizia não ter familiar algum, o que só por se ver o pobre do velho ali naquele estado e ali vindo sabe-se lá de onde, fazia querer que mesmo que tivesse, o que pela lógica faz crer que sim, era exactamente como se não tivesse; ou pelo menos sem dignidade ou credibilidade de tal estatuto.
Cremos até que era vivacidade da parte do velho, que com certeza de bem tido pelos seus possíveis familiares, que não reagem menos que a indicar o complemento do que já atrás se disse, era vivacidade, e dizíamos, por se querer ele próprio, quase inerte, bem longe deles, razão certa pela qual dizia não possuir para que o mantivessem bem longe.
Roto, sujo e mal ataleigado, era o envolto do que se diz um corpo humano; apoiado numas canadianas que mais pareciam do terceiro mundo ou pré-história, feitas de pau velho e já de muitas andanças até suportando o pobre e leve corpo, mas de pouca mobilidade, e como tinham umas cores estragadas pretensamente como as de um invisual, veio a constactar-se que tinha muita dificuldade de visão, e queria seguir viagem com algumas roupas que se chamam vulgarmente farrapos a esturbar mais o pobre e desgraçado ancião na já difícil tarefa de manejar e se deslocar.
Alguém o ajudou a sentar-se ali nas imediações dum moderno complexo, como por ironia, e de tanta gente bem enfarpelada, muito poucas eram as que lhe ligavam importância, de um só olhar.
Se familiares deixavam o pobre ancião demandar-se assim ao Deus-dará, houveram duas boas almas que não deixaram o homem, porque era um homem, ao destino imprevisível que o mais natural seria acometer-se de acidente mesmo de atropelamento, ou outro possível, e metido num carro, aquele homem, pôde andar de carro, foi levado por dois senhores de bom coração, que até sabemos confirmar, porque conhecemos um, mais ou menos destes meios de comunicação, e outro de actos de dinamismo, que levaram o ancião ao asilo local onde não parecia haver muita disponibilidade para o aconchegar, mas reparado em pormenor, pode perceber-se o corpo dorido e saliente de habituado aos colchões das ruas, e estado aparente, que ao pressentir uma Irmã da Caridade, lhe falou cheio de ternura, que ficava já ali naquele maple, bem mais suave para os seus ossos, que lhe valeu pronto aconchego e eficiente bem como ser de imediato saciado daquela sede de fome...
Mário Adão Mendes de Magalhães
O Caso, 15.09.1989
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