5.30.2007

Pretensão. [Sentenças Ocas].

Filosofia. [Filosofia sem Privilégios]. Filosofia das Ciências. [Realismo hipotético, pluralismo sem anarquia.] Filosofia das Ciências do Artificial. [À procura da prótese perdida da Máquina de Turing e das Tartarugas de Walter.] Um epitáfio em construção pelos grandes esquecimentos (do corpo, do mundo, dos outros). E todas as outras coisas de todos os dias, os banais e os outros.
Editor: Porfírio Silva

Cabeçalho do blog Machina Speculatrix

5.15.2007

Menores roubavam chupas e rebuçados

Nove menores, entre os 11 e os 15 anos, são os autores de vários furtos no interior de edifícios na cidade de Beja, que duraram três semanas, segundo a PSP local.

Pertencentes a uma instituição de solidariedade da capital do Baixo Alentejo, os menores dedicavam-se, sobretudo, ao roubo de guloseimas, mas a identificação das primeiras quatro crianças permitiu à Polícia referenciar as outras cinco.

O comissário Nuno Poiares, da PSP de Beja, revelou ao DN estarem confirmados os furtos na Biblioteca Municpal José Saramago e na Casa da Cultura, mas as autoridades procedem a averiguações em torno de outros crimes similares que decorreram em Beja, para aferirem se existe ligação entre eles. É que houve, pelo menos, mais três furtos que, aparentemente, apresentam as mesmas características, justamente devido aos desaparecimento de gomas, chupas e rebuçados. “É típico de crianças”, considerou Nuno Poiares.

Depois da investigação, o processo vai ser encaminhado para Tribunal, sendo que ontem a PSP ainda não conseguia avaliar os prejuízos causados pelos menores, assegurando também que a sucessão de furtos não chegou a gerar pânico em Beja.

“Nós é que ficamos mais incomodados, porque queremos que tudo corra bem e pretendemos ter a situação controlada”, referiu, assumindo que a maior preocupação em torno desta vaga de furtos se prendeu com o facto de ela ter coincidido com a ocorrência de furtos em interior de viaturas. “A conjugação destes furtos, num meio pequeno como o nosso, é que incomodou a polícia, mas não houve lugar a alarme social”, concluiu o comissário.


Roberto Dores

DN, 02.06.2006

5.14.2007

COM OS OLHOS MAREJADOS DE LÁGRIMAS

“MAMÃ! A AVÓ MORREU!”


Não é menino prodígio, nem “fora de série” é apenas um menino normal de seis anos, vive com os pais, tem outro mano, mais novinho, faz a vida que fazem os meninos da sua idade.

Vai à creche, brinca, ouve música, vê televisão e este ano lectivo já se vai sentar nos bancos da sua escola, o que lhe está a causar uma grande alegria, pois diz com graça que “vai estudar para aprender mais...”

Vamos chamar-lhe o menino “R”. Tem uma paixão pelo seu telefone e sempre que é possível é com alegria que o atende e fá-lo com graça, simpatia e às vezes até com uma pontinha de vaidade.

Mas, num destes últimos dias, o aparelho que ele tanto gosta, fez uma “partida” – foi mau – deu uma notícia muito triste, uma notícia que talvez o vá marcar durante muito tempo! A sua avózinha, que para ele era a “sua vóvó”, tinha morrido e ele passou o telefone à sua mamã e ouviu claramente a notícia que ele nunca quereria ouvir.

Sua mamã, a Sr.ª M.R. e seu papá o Sr. J que estava presente, sentiram o impacto da brutal novidade e, com os olhos marejados de lágrimas, começaram a sentir a inesperada partida da vóvó, mamã e sogra que, tanto os venerava, pois aquela mamã talvez fosse diferente das outras.

O seu pequenino mano, mais comedidamente, sentia também o choque e, em silêncio, padecia... com que aspecto!

A Sr.ª M.R. combalida de grave doença que ainda a retinha em casa, sofrendo com o que aquele dia 29 lhe tinha trazido, entrou em pranto, chorando lágrimas “já” de saudade, de dor e de amor filial.

O menino “R” demonstrando uma disposição invulgar e um elevado espírito humanístico, quase impossível nos “meninos” da sua idade, com a sua vózita embargada pela emoção, mas firme, vai junto de sua mamã e tenta-a reconfortar com estas simples palavras:

“Mamã, não chores pela vóvó! A todos nós nos vai acontecer o mesmo... é a ordem e a lei da vida” e, meigamente como sempre mas, desta vez, talvez que a meiguice fosse superior àquela que sempre tem apresentado, com beijos ternos e molhados pelas suas inocentes lágrimas, encosta a sua carita à da mamã e volta novamente a tentar reconfortá-la.

O seu papá, o Sr. J. tudo presenciou, vergado ao desgosto da perda daquela que ele tanto queria e que a considerava de “mãe”, reviu no seu pequeno filho, uma criança amorosa e, disse para si próprio: “Que coração tens, meu querido filho...”

Mais palavras para quê, depois desta manifestação de amor, de carinho, de bondade e principalmente de ternura infantil, apenas e só isto!

Que Deus te proteja e que sejas feliz, meu rico menino.


Álvaro Teixeira

O Caso, 15.09.1989

Prò exemplo do uso do chapéu

Apesar de sobrecarregada pela grande diversidade de encargos que, na ordem da economia interna, grandemente a oneram e a que dificilmente acorre, a indústria de chapelaria depara hoje no mercado nacional com um fraco poder aquisitivo que, a prolongar-se na mesma linha de insistência com que se tem apresentado, gravemente comprometerá a sua situação.

A causa deste grave mal que reside no descaso que o público faz do uso do chapéu, sentir-se-á cada vez mais e os seus efeitos afectarão profundamente a economia nacional com todas as consequências de ordem social, que é fácil supor. Daqui procede estar a situação da chapelaria sèriamente comprometida e, com ela, a balança económica da Nação, em virtude da falta de solidariedade existente entre o interesse colectivo (o público) e o interesse de classe (os industriais e, com eles, todos quantos vivem deste ramo de negócio). Se o que é útil à abelha, é útil à colmeia, o que se torna necessário ao industrial de chapelaria é mister à comunidade, dependente em si do trabalho e bem-estar das várias associações organísmicas que para ela concorrem.

Ora, há já alguns anos, que em Portugal faz carreira a pretensiosa moda dos “descarapuçados”. Quase se não usa chapéu, porque uma estranha correlação psicológica entre a superficialidade e a cabeça ao léu a tal impele; quase se não usa chapéu, porque a autoridade do exemplo não surge.

Nestas circunstâncias, é de louvar o mais pequeno esforço que se faça em ordem à debelação deste estado de crise, pequeno esforço que está ao alcance de todos nós pelo simples facto de trazermos este tão cómodo como útil acessório da nossa elegância, este produto nosso, executado em fábricas portuguesas, com o trabalho e suor de muitos portugueses e de que a indústria nacional justamente se orgulha: o chapéu. Mòrmente o esforço daqueles que bem servem a Nação no exercício dos mais elevados cargos teria neste particular uma decisiva influência. É que temos visto, com vivo pesar, que em contravenção da aflitiva realidade desta situação, de uma evidência constringente, muitas personalidades de relevo, inclusivé mentores dos destinos económicos do país, se apresentam em público sem chapéu.

Por moda, tal prática é funesta e cria a esta indústria dificuldades em construir em bases sólidas uma razoável euforia.

Ora bem sabemos todos nós quanto a estabilidade da rotação económica do país depende do grau de consumo dos diversos artigos que dão vida ao comércio e à indústria para, uma vez diminuido, logo se sentirem graves perturbações na orgânica da Nação.

Para obviar aos grandes males que, da evolução deste estado de coisas, já se notam e tudo leva a crer que se acentuarão ainda mais pondo em risco o capital e o trabalho de toda uma indústria dado que a moda parece apostada em querer riscar da actividade nacional a produção do chapéu de que tantos e tantos vivem e a própria Nação aproveita, muito desejaríamos nós, muito desejariam todos os que aflitivamente pensam no futuro da chapelaria, que, numa louvável convergência de esforços e de boa vontade, o chapéu não fosse relegado por ninguém como objecto dispensável ou inútil, a começar pelas altas e bemquistas personalidades do Estado desde os elementos que compõem o govêrno até ao funcionalismo público, os servidores da Nação, para cujo bem-estar (o bem-estar de todos) a chapelaria também contribui.

Considerado que seja o que representa para todos os industriais, comerciantes, empregado, operários e para a própria Nação a gravidade de um mal crescente, o que fica dito, que bem se pode interpretar com um apêlo ao bom senso e ao patriotismo de todos, não são meras palavras vasias de sentido; antes a realidade de um mal que a todos afectará em geral.

S. João da Madeira,
Julho de 1952
Patriota


Carta recebida no Instituto Nacional de Estatística em 21-07-1952