11.16.2004

Louco ameaça rebentar prédio

Polícia e bombeiros a postos para o pior na Costa da Caparica

Pedro Silva, 31 anos, barricou-se ontem durante todo o dia num apartamento na Costa da Caparica ameaçando fazer explodir o prédio. Pedro é o actual companheiro de Rita Oliveira, que de manhã o tinha denunciado à polícia, acusando-o de a querer matar.

À hora de fecho desta edição, o inivíduo mantinha-se fechado depois de horas seguidas de tentativas de negociação com agentes do GOE (Grupo de Operações Especiais). À noite chegou à janela e gritou exigindo a presença da televisão, caso contrário suicidava-se fazendo explodir duas botijas de gás.

O aparecimento de Pedro na vida do casal Sérgio e Rita Oliveira começou, segundo os vizinhos na Rua Manuel da Costa, no final de Setembro de 2000. "Deu logo problema", comenta uma vizinha que relatou ter ocorrido "um autêntico inferno durante uma semana". "A Rita começou por dizer que era primo dela, depois já era amigo do casal, mas como ele desatou para aí aos tiros aos vizinhos, agora já diz que nem sabe o nome dele", referiu a vizinha, que estava há horas de pé à espera para entrar em casa.

Depois de uma fuga aparatosa à polícia, quando tentou balear dois vizinhos, Pedro voltou sexta-feira ao apartamento da Costa. "A Rita tinha ido viver com ele para casa da mãe em Lisboa e quando soube que o marido cá tinha metido um casal de loucos veio correr com todos", confidencia a vizinha, que pede o anonimato por temer represálias.

Após o despejo, ficou aberto o caminho à chegada de Pedro, que, "na madrugada de sexta-feira, entrou com um sofá e umas caixas". "Esteve calmo todo o sábado, mas no domingo à noite, depois de vir das compras, subiu ao terraço do prédio e atirou com sacos com água e brinquedos para cima das pessoas", disse a vizinha ao 24horas.

A vizinhança não gostou e chamou a polícia, mas quer Pedro quer Rita fecharam-se em casa e não responderam à PSP. De madrugada os episódios sucederam-se: "Eles tinham uma ligação directa à caixa da electricidade da escada porque a EDP lhes cortou a luz e eu fui lá e arranquei-lhes os fios. Foi uma guerra toda a noite", conta um dos vizinhos que garante ter sido ele a obrigar Rita a fazer queixa na polícia porque, "para ela, isto era tudo uma situação normal", remata.


João Bénard Garcia

24 horas, 2001 (?)

11.05.2004

Tubarão-frade retalhado e vendido na Lota de Sagres

Um tubarão-frade (Cetorhinus maximus) foi capturado hoje ao largo da costa oeste do Algarve, depois de ter ficado preso nas redes de pesca ao tamboril de uma embarcação. O animal de dez metros de comprimento acabou retalhado e vendido na Lota de Sagres.

Em Fevereiro de 2003, esta espécie entrou para o Anexo II da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Extinção (Cites).

O animal, com cerca de dez metros de comprimento e mais de duas toneladas, foi capturado pela embarcação "Mestre Catarino" a cerca de doze milhas do Porto da Baleeira, em Sagres.

"O bicho estava preso nas redes utilizadas na pesca do tamboril, a mais de 300 metros de profundidade", disse o pescador Eliseu Catarino, lamentando os estragos que a captura provocou nas redes, que avalia em mais de 200 euros.

Chegado à lota de Sagres, cerca das 18h00 horas de hoje, o animal acabaria por ser retalhado e vendido a um comerciante de pescado da zona de Alvor, por 180 euros - doze cêntimos por quilo.

"Tenho andado mal disposto por ter deixado retalhar o peixe" confessou Eliseu Catarino, para quem o "troféu" deveria ter sido mais divulgado, dada a sua raridade.

Fonte portuária disse que, apesar de aconselhado pela técnica da Docapesca a manter o peixe intacto, o comprador teria manifestado uma pressa invulgar em retalhá-lo, alegando que "queria ir para casa ver o futebol".

Considerado um viajante dos mares, o tubarão-frade é relativamente frequente a distâncias da costa portuguesa superiores a cinco milhas marítimas, sendo considerado um animal sociável e pacífico que se alimenta exclusivamente de plâncton e pequenos animais marinhos.

Em 1993, a espécie Cetorhinus maximus foi classificada pela IUCN como Insuficientemente conhecida ("K"), o que lhe conferiu um estatuto de espécie provavelmente ameaçada. No mesmo ano, o tubarão-frade foi classificado na Lista Vermelha de Peixes Marinhos e Estuarinos (ICN, 1993) como Raro ("R") para as águas portuguesas (continentais e insulares). A classificação "R" implica que a espécie seja considerada em risco.

Em 2001, a União Europeia instituiu uma quota zero para a captura de tubarão-frade nas suas águas.


Público, 03.02.2004

11.04.2004

Quando os erros doem

Ao longo das nossas vidas todos passamos por situações que não sabemos como aconteceram, porque aconteceram. Há cerca de um mês cometi o meu primeiro grande erro organizativo num torneio. Ao fim de mais de 20 anos a organizar eventos desportivos alguma vez havia de acontecer dirão alguns. Mas não, há erros que não podem acontecer. Porque são erros para os quais não há desculpa.
Aconteceu no Nacional Feminino, estava eu a digitalizar partidas, concentrado, quando me perguntam se a Ana Baptista ainda pode ganhar. Sem pensar duas vezes disse que a Catarina Leite já era campeã. Tão convencido estava que também o disse para a imprensa. Só que os regulamentos tinham mudado, e o resultado na partida final entre ambos seria decisivo.
Na manhã seguinte estava de partida para França e apenas quando regressei vim a perceber o erro cometido. Desculpas houve que apresentar, e aqui me penitencio uma vez mais, especialmente à Ana Baptista, mas devo confessar que não há desculpa para erros deste tipo, porque a culpa nos há-de perseguir sempre. Haverá perdão.
Por acaso naquela fatídica noite tinha dito que a Ana Filipa devia jogar para ganhar e que isso seria o mais importante, e ela acabou por jogar uma excelente partida final impondo mais um empate à campeã nacional. Se assim não fosse não sei como estaria hoje comigo mesmo, e como já certamente perceberam, nada bem estou com a situação.
É uma daquelas manchas que vai sempre permanecer dentro de mim.
Muito importante é aprendermos com os nossos erros e este revelou algumas coisas:a) em situações decisivas devemos sempre confirmar se a nossa verdade o é de facto, o nosso subconsciente prega-nos muitas partidas;b) fazer muitas coisas em simultâneo aumenta gravemente as probabilidades de um erro ocorrer;c) com a idade vamos perdendo faculdades.
Verdades de que todos conhecemos mas tantas vezes esquecemos.
Devo confessar que foi a segunda vez no espaço de um mês que senti a idade. Isto quando se chega aos quarenta é complicado. A primeira foi em Ourense quando pela primeira vez me vi sem força física para jogar futebol dois dias seguidos. A segunda foi neste caso, em que pela primeira vez a memória me atraiçoou numa situação crítica.
Como sabem estive gravemente doente no início do ano, e de facto deste então já por algumas vezes tinha deparado com situações de falha de memória, em pequenas coisas. Mais uma razão para estar atento.
Peço vos desculpa por este editorial ser tão pessoal, mas há fantasmas que temos que tentar exteriorizar, e a Ana Baptista merece um pedido de desculpas público.
A vida é feita de grandezas e misérias.
A vida continua, mas a dor permanece.


Luís Costa

www.infoxadrez.com, 05.08.2002