O VALE DO CENTRO HOSPITALAR DO VALE DE SOUSA
MENINA DE 3 ANOS MORRE POR QUÊ?
O Centro Hospitalar de Vale do Sousa, tem no decorrer da sua acção, que começou há sensivelmente três anos a servir Felguerias, suscitado graves desagrados a este ou aquele utente, mas tão habituados que estamos a isto, e nisto de saúde, quase não os temos realçado, e em conjunto com os utentes mais perto dali, que até conhecem melhor a ineficiência dos serviços, até por mais experiências.
Eis que um caso, e de morte, salta agora para a imprensa! Há dias, uma menina de três anos, foi observada na secção de Paredes daquele Centro Hospitalar, e queixando-se ainda, era de uma perna, foi encaminhada para a secção de Penafiel, para ser submetida a intervenção cirúrgica... Só que talvez porque não é(ra) filha de ministros, a intervenção como é normal nestes casos, era para ser daí a dias; talvez até porque ali se trabalhe «a dias» como já acontece noutros hospitais (!)
Num dia em que a criança estava mais birrenta, a mãe sai à rua para adquirir um objecto de brincar pretendido pela criança e ao regressar ouve que a filha estava a morrer, e operada que ia ser naquela tarde... Reconduzida ao Hospital de Paredes, a inditosa criancinha é transportada para o Hospital de S. João, onde falece.
É acusado pela família da criancinha, o Hospital de Penafiel, de aplicação de um medicamento injectável contra-indicado, que pode ter sido a causa de tão fatídico acontecimento e quando a enfermidade, parece que residia num dos membros inferiores da criancita. Aguarda-se ainda o resultado da autópsia, para Setembro (não esquecer que a época é de veraneio!) Quando será dado a conhecer à família que entretanto já sabe que a inditosa criança apresentava o corpito todo negro.
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Saúde em Portugal: uma urgência sem «banco» que a acolha e resolva o mal!É um exemplo concreto. E dos muitos que vão acontecendo nos hospitais deste País, um pouco deste ou daquele modo; política de Saúde portuguesa, com certeza – rima e vem sendo verdade!
Mas só ressaltam estes casos de morte... Que no entanto eu não fosse ser extenso, contar-lhe-ia aqui uma história, esta seria uma história, de pasmar de igual modo, e bem concreta, porque se foi passando comigo.
Fora transferido do Hospital de S. João, no Porto para ali, e depois de largas duas horas à espera no corredor numa coisa que chamavam maca, deixado pelos bombeiros, eu com tudo o que trouxera dos longos dias e fatídicos, não lhes digo horrorosos para não se arrepiarem, como sendo livros, alguma fruta e garrafas de água, que por sinal fora comprada no interior do Hospital no Porto, que então era assim permitido, e já as amigas canadianas envoltas num plástico para estreia daí a uns mesitos e alguns relatórios dos clínicos do Porto, tudo em cima de mim deixado, eu fora ali achado ao cabo de duas horas, talvez já fartos de me verem naquela situação algo inconfortável, e dali começo eu a decifrar o relatório que nem era entendido por aquele pessoal de serviço, que concluira que estava bom, eu que tivera a morte por pertinho, noutro caso até seria de ficar bem contente!
Portador que fora da mensagem e muito pior do meu estado, eu contrapus, mas sem valor, porque fora convidado a «dar um copo ao motorista» ao serviço daquele Centro Hospitalar, (!!!), o que obviamente aceitei, e porque tão só era vir para casa, pois se não! Como indicava que estava ‘melhor’, e até porque não ficaria ali a fazer nada – como disse o clínico, se não aceitasse tal proposta, pelo que por favor me era deixado ali ficar numa maca até ao outro dia de manhã para não dar entrada legal nos respectivos serviços.
Tal hospitalidade não só não me agradaria, como a insistência repisada da oferta do copo pelo motorista quando chegou ao pé de mim, fizeram que eu aceitasse vir embora onde sempre tinha quem melhor tentasse tratar de mim, ileso naquela maca.
Chegado a casa e servido o copo ao motorista, depois da estupefação dos meus familiares, de que eu estivera tão mal e fora recambiado assim para casa, foi feito um telefonema para o Hospital do Porto, que obviamente declinou responsabilidades, dizendo que me transferiu e não mandar enviar-me para casa!
Novo telefonema é feito, mas para o Hospital de Penafiel, e é por ali dito que ao outro dia regressasse ali, sendo assim, para ficar internado. E eu não me fiz tardar, de ambulância obviamente, e chegado ali, é dito, que se o colega do dia anterior, tinha dito que estava bem, e que me mandara para casa, não ia desfazer do que ele dissera, mesmo sem que, como o do dia anterior, me hajam consultado! E perante tal estupefação, explicavam os meus acompanhantes que fora mandado por fim ir ali daquela vez por um colega, mas mesmo assim foi contraposto, e disseram que voltasse ali no dia dezassete, estando no dia treze, eu achei ser de mais, dados os cuidados que eu tivera no Porto, mas me fui acalentando ali estendido, mas viria a ficar mais admirado, que era do mês seguinte... (!)
Pronto! Foi esta a recepção e cuidados que recebeu um doente em «cuidados extremos»!
Foi no nosso hospitalinho de Felgueiras que me foi acolhendo, onde por fim me hospitalizei mesmo sem que ali houvesse a especialidade, até que volto a Penafiel no dia predestinado, quando me é retirada, a tala de gesso, e começara a ir andando sem que uma radiografia ainda fosse tirada, e começara a fazer fisoterapia, que por infelicidade minha, viria a ser ali também quando pode ser, até que ao cabo de sete meses sensivelmente, decido consultar um conhecido especialista do Porto que me pediu as radiografias nunca tiradas e logo que me tiraram ali uma num instante, eu oiço dizer que teria de ser operado de novo porque o material de osteossíntese estava partido, e eu que andara ali o tempo todo, eu de mim, sou masoquista, para conseguir suportar toda aquela bagunça que quase tanto me afligia como o meu martírio físico, mas a dar gastos e ocupar os lugares de quem também precisava, e tinha pachorra para ser mal recebido nos tratamentos de fisioterapia, se mal tratado já era, e nem mesmo a médica responsável atendia quando os bombeiros se atrasassem uns cinco minutos, creio, comigo, que não foi só essa vez que fui atendido, para ser olhado apenas, sem que nada fosse examinado e nunca mandado ser radiografado para que se soubesse ao que me estavam a mexer. E partir ferros não é fácil!
E hoje pedaço disso ainda, depois de ter dispendido umas centenas de milhares de escudos e ir à medicina privada.
Por incompetência. Ineficiência dos serviços. Falta de vontade – ???
Será que já na altura se pretendia mostrar a ineficiencia e incompetência daquele Centro Hospitalar, dos seus clínicos, naquelas instalações para que fosse o edifício projectado para ser construído dentro dos mesmos meandros, como a ministra quer?
Foi essa a História em termos sucintos, duma situação fatídica de que ainda hoje padeço, e mesmo me fica nas marcas mentais, e que agora, só por tocar no assunto fugazmente, me fez alterar até mesmo a síntese deste apontamento que me enjoou que não posso deixar de mostrar o meu repúdio, que estava a deixar para altura mais oportuna e com repercussões graves que eu vou tentar reflectir, perante tão macabras pessoas que têm a nossa saúde nas mãos deles! E isto a propósito duma morte.
Mário Adão Mendes de Magalhães
O Caso, 01.09.1989
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