7.01.2007

PERDEU-SE DA ESTRADA E ENCONTROU-SE COM A MORTE...

ASSOLADA TRAGÉDIA DE MORTE DUM JOVEM DE 19 ANOS DE IDADE

FELGUEIRAS

Na terça-feira 29, o infausto Rogério Manuel da Fonseca Ferreira, teve o conhecimento aziago que ia à inspecção militar no próximo dia 12 de Outubro.

Aquele jovem, de excelente compleição física e atlética, nascera em 14 de Junho de 1970, e fora pouco afortunado em saúde nos primeiros, e curtos, anos da sua vida.

Porém, adolescente, aquele exemplar jovem era uma pessoa muito concentrada e dava conselhos ou chamava à atenção dos seus irmãos, quando assim o entendesse, e de saúde robusta, que tanto custou a recuperar, vivia uma vida muito ponderada e relativamente feliz, nisto que para ele já não é vida...

PERITO NA ARTE DE BEM CORRER... CORREU PARA A MORTE!

Atleta da União Desportiva de Várzea, cá deste burgo, o infausto Rogério, velocista, era perito na arte de bem correr os cem metros. Neste clube encontrou a sua namorada, conhecida atleta nacional, Carla Machado, que participou recentemente nos Campeonatos do Mundo de atletismo. A par disto, o Rogério estudou até ao oitavo ano escolar, quando deixou para exercer a função de mecânico de automóveis.

Viria a ser esta de algum modo a sua funesta razão de deixar estes terrenos. – No dia em que soube que ia à inspecção militar, ao fim da tarde, o Rogério foi à oficina fazer uns biscates, mais um colega de trabalho – o Paulo, de 17 anos, que mora em Santa Quitéria...

PRELÚDIO DA GRANDE TRAGÉDIA

Cerca da meia noite, sairam da oficina e foram infortunadamente na estrada nacional que liga Felgueiras a Fafe, e ao passarem numa curva em Lameiro Morto, foi o próprio Rogério, por ironia, que alertou o facto de aquela curva ser perigosa e dever ser-se ali precavido... e não tardaram nada a regressar, quando eram cerca das 00.30 H, de quarta-feira 30, as sirenes dos B. V. de Felgueiras fizeram-se ouvir, num prelúdio de grande tragédia, porque não é hábito aquelas sirenes tocarem, porque há naquele quartel sempre alguns efectivos disponíveis, salvo se assim for necessário, e viria a ser necessário tocar outra vez...

De manhã, este redactor, que mora relativamente perto da que fora a residência do Rogério, começou por sentir a avalanche, traduziada nos rostos estampados das gentes, e o estoiro estava dado...

O infortunado Rogério cedera à morte, num fatídico acidente de viação naquela curva que antes fora ele próprio a alertar para a necessidade de precaução.

Havia recentemente adquirido um FIAT 127 900/C, com uns parcos escudos, ajudado pelos pais, o senhor Mário Ferreira e a senhora Emília Fonseca, fora o próprio Rogério que com estes tinham arranjado o aconchego do automóvel pelas próprias mãos, na habitação daqueles laboriosos e honestos pais, no lugar das Idanhas, nesta vila, operário de calçado e operária têxtil, respectivamente.

Porém, esse veículo não passa de uma grande amálgama de chapas, que serviu para cemitério do Rogério, como as fotografias documentam (já numa garagem mecânica), e a garagem do automóvel, não deixa de ser um espelho constante, naquela casa, de tão grande tragédia.

Naquela quarta-feira, esta vila de Felgueiras era uma vila sóbria: grupos de jovens de ambos os sexos, de blusas escuras ou não, todos traziam nos rostos, estampadas a sua tristeza sentida conjuntamente com os familiares que foram ver, do infortunado jovem.

UM ACOMPANHAMENTO FUNÉREO IMPRESSIONANTE

O Rogério, que fora autópsiado no Hospital de Felgueiras, de onde viria a sair para o cemitério municipal, cerca das 16 h. na quinta-feira, com enorme acompanhamento quer de pedestres, quer de automobilistas, – e eram de todas as idades e extractos os acompanhantes do malogrado Rogério Manuel da Fonseca Ferreira, que aos dezanove anos naquela que fora sorridente vida – e optimista, deixou ficar o mundo dos vivos, com grande dor para todos e profunda mágoa, na falta sentida da boa companhia que era para aqueles pais e irmãos, o exemplar malogrado.

Agora choram-no a irmã Goretti, de 25 anos, o Braulio de 17, que pacientemente nos prestou algumas declarações, daquelas que tivemos coragem para perguntar, porque mais não tivemos como tirar fotografias da imagem daquela tragédia humana, agora infestada naquele lar, infausto e obscuro sem uma luz daquele excelente jovem estimado por todos e a irmã Suzana de 14 anos.

O 127, presumivelmente a velocidade razoável, entrou na curva desorientado e entrou numa pequena ravina, de onde o Paulo, acompanhante do infortunado Rogério, foi achado quase ileso, recebendo apenas tratamentos no banco de urgência do Hospital de Felgueiras, onde perguntou pelo colega condutor, e como mais nada tinha sido visto, os prontos bombeiros voltaram ao local para encontrarem o Rogério já cadáver. Que assim, precisamente às 17 h. desceu à terra fria no fundo buraco, que não será como o fervor daquela vida que teve o jovem, e quente daquela tarde, frívola no desepero daquela mãe que apenas conseguia balbuciar os lábios sem matiz e sem voz, num rosto esbranquiçado, a despedir-se do seu «querido filho», e no rosto do pai inerte, estampada a amarga dor, viram o filho descer ao buraco, na urna coberta pela bandeira da União Desportiva de Várzea, lembrando o sacrifício que aquele malogrado filho teve em criança para sobreviver, e agora que gozava de excelente saúde, descia ali à terra funda, ao pé da avó que o criou com carinho, como se fosse mesmo ao pé, porque não se vislumbrava nada, como acontecera àquele jovem de estatura robusta, e estonteante para muitas das miúdas que ali o viram descer onde ficou o «Lindo menino» da Carla Machado, que não queria que o deixassem ir para ali; mas todos os presentes deixaram ficar ali o infortunado Rogério, jovem no seu esplendor do que seria vida.

– A lei da morte, que nós achamos que é da vida...

Nós próprios, deixámos ali lágrimas, também deixámos o Rogério ali... sem pudermos fazer nada(!)

Que descanses em paz, Rogério, junto do Deus Senhor, e se puderes pede ao Senhor que nos console, e dê acalento aos teus inconsoláveis e inconformados pais e irmãos.

Fica com Deus... já também que ficas em muitos corações!

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O veículo visto de trás: a amálgama branca do lado esquerdo é («foi»!) a porta do lugar do condutor

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O infeliz Rogério Manuel da Fonseca Ferreira, cuja morte aos 19 anos, deixou toda uma Região contristada

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Aspecto do lado mais danificado do carro... sair dali com vida, só por milagre!

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Pormenor da viatura, vista de frente, podendo-se apreciar da brutalidade do impacto

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O interior do veículo e a amálgama mortal do lado direito... o carro permanecerá guardado nesta garagem até decisão dos pais da jovem vítima

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Uma imagem de pesadelo: o interior do automóvel, ainda com resíduos de sangue

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O interior da viatura, transformado em féretro do inditoso jovem


Mário Adão Mendes de Magalhães

O Caso, 15.09.1989

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